Há zonas de Lisboa onde vamos jantar com muito menos frequência que outras. Nem tem a ver com proximidade, tem mesmo a ver com o facto de não abrirem muitos restaurantes e os que existem não se destacarem. Pelo menos para nós. E aquele eixo Saldanha – Avenidas Novas é uma dessas zonas, principalmente à noite, onde não se vê vivalma na rua. À hora de almoço há imensa gente, mas à noite a situação muda radicalmente.
Ora, só quando nos aproximamos na rua é que percebemos que o Comendador Silva fica no mesmo local do encerrado Txiriboga, a taberna basca sobre a qual escrevemos aqui e que foi uma experiência muito má. Isso não nos deixa de pé atrás, antes pelo contrário. Ficamos com expectativas!
E a verdade é que o Comendador Silva nada tem a ver com o antigo “inquilino” do espaço. Logo à entrada, percebemos estar num registo mais moderno, quase sofisticado, sem grande decoração, com o bar a destacar-se no fundo da sala.
Um espaço que, vazio, não parece o mais convidativo, mas que com gente muda rapidamente de figura.
O serviço anda ali naquele registo entre o formal e o informal, ou seja, em momentos é uma coisa e noutros é outra. No fundo, é o registo do próprio restaurante.
A cozinha é chefiada pelo Chef Napoleão Valente, e tem a sua base na cozinha portuguesa mas com alguns toques da gastronomia africana (porque o Chef é angolano). Isso sente-se menos nos condimentos (esperávamos alguns toques mais picantes) e mais na introdução de um ou outro elemento nos pratos. Mas só lá chegamos com o enquadramento, porque a base é mesmo muito tradicional.
O couvert surpreende pelo pão de alfarroba e também pela manteiga de chouriço, muito melhores que o resto dos pães (milho e cereais) e a outra manteiga (de ervas).
Depois, e logo para começar, o melhor prato da noite: Pato com Citrinos e Rebentos. Uma espécie de croquete de pato mas espalmado, servido com um topping de laranja e limão, que resulta sempre bem o pato. Mas o que não esperávamos era que o molho de frutos vermelhos que completa o prato funcionasse tão bem, a fazer o contraste doce com a acidez dos citrinos. Os rebentos terminam o prato com alguma crocância. Uma entrada fresca e muito saborosa.
Nos principais, um prato de peixe e outro de carne, que também nos dizem ser dos mais pedidos da carta.
Por um lado, o Robalo, Abóbora e Arroz: um lombo de robalo braseado, bom o peixe e cozinhado no ponto, com um arroz de abóbora com alguns vagos fritos no topo, tipo pipoca, o que lhe dá um toque muito engraçado. Mais rebentos neste prato, aqui sem grande objectivo.
Por outro lado, temos o Frango do Campo, Alheira, Batata e Legumes. Um peito de frango recheado com a alheira, um pouco seco demais, acompanhado de um puré de batata doce e legumes salteados, melhores que o puré. E, claro, mais rebentos… pois.
A sobremesa não traz rebentos, mas volta a trazer o elemento surpresa. A Mousse de Frutos Vermelhos traz uma telha de biscoito a acompanhar e uma textura escondida de gelado, por baixo da mousse. Essas texturas e temperaturas diferentes dão uma dimensão muito interessante à sobremesa. Muito interessante mesmo.
No fundo, mesmo com altos e baixos, o nosso jantar no Comendador Silva correu bastante bem. A carta não é extensa mas os pratos são assertivos. Há ainda a opção de um Menu de Degustação, com 5 pratos já definidos, os best-sellers.
Numa zona em que há muitos hotéis mas que à noite parece um pouco deserta, o Comendador Silva terá uma tarefa complicada pela frente, que é anterior ao fazer os clientes voltarem. O principal problema é mesmo convencer a população da zona a sair à rua e ir lá jantar. Pelo menos a primeira vez. Porque a comida depois faz o resto. Mesmo que pudesse não ter tantos rebentos. 😉
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